As palavras

Os meus pensamentos se concretizam no acto da palavra, dita ou escrita, ela toma forma , com a entoação de uma reprimenda ou de uma doce alegria. Nem sempre digo tudo o que penso, felizmente, porque sei que nem sempre é o mais correcto. Mas sempre procuro dar um sentido às coisas que faço, do que penso e no que acredito. E as palavras estão aqui para justamente cumprir o seu desígnio.

Mas, sei que o mais fácil é calar, não dizer nada, esperar que as coisas por si só se arranjem sozinhas, sem que eu me comprometa, sem que eu magoe ou sem que me envolva. Porque há o arrependimento.  Há coisas que se dizem num momento, que mais tarde , passando a fase, nos perguntamos se foi isso mesmo o mais correcto. Amadurecer o pensamento, pesar os seus prós e contras é o privilégio de nós, seres pensantes e vocalizadores.  

"Conta até dez antes de dizeres algo"

Mas da mesma forma que preciso dizer e escrever as palavras, preciso de lê-las, ouvi-las. Eu preciso que me expliquem o porque das coisas. Eu não consigo ficar durante muito tempo esperando que o significado das coisas me caia no colo. Preciso que me digam, porque é preciso um começo, um meio e um fim para tudo.

O fim. O pior de tudo, finalizar o que ficou, e há quem pense que não é preciso explicar nada. Mas é sim. Ouvir, entender, interiorizar e finalmente encerrar o assunto. Só assim a nossa paz interior consegue, mais ou menos, surgir e depois dar seguimento à nossa vida.

As palavras que eu não disse.

As de adeus para que já se foi longe de mim e não me pude despedir, as amargas para que me magoou, as de obrigado à quem me ajudou e não as quer aceitar.

As palavras que ainda estão por dizer.

As de adeus para quem tenho que deixar, as de verdade, a minha verdade, de factos ocorridos, as de obrigado também e as de amor que ainda espero poder dizer.

Recuso-me a deixar amordaçar o meu pensamento, a minha voz e a minha mão. De uma forma ou de outra, não aceito a censura, mas aceito a conveniência do momento. Mas mesmo assim, há de chegar a hora em que as palavras são necessárias, nem que seja a pior coisa a dizer. Mas quem quer andar de cabeça erguida, em paz consigo mesmo, precisa de dizer o que ainda não foi dito.


Apareçam

Rakel.