Eu bem tenho razão, por mais espatafúrdias que sejam as minhas pancadas (e segundo consta, tenho uma daquelas pancadonas) mas lá bem, bem no fundo tenho um motivo de razão.
Há uns 2 ou 3 anos, fiz o funeral do meu Adérito, um laptop antigo, com um RAM que apenas era uma vaga memória, tossia que se fartava com os programas novos e mal começava a querer rodar algum projecto novo, aquecia e desligava no auge da apoplexia. Toda gente achou estranho esse pequeno facto: dar nome à um objecto, coisa que nunca achei assim tão estranho. Afinal das contas, passava grande parte do dia com o Adérito. Querendo ou não precisamos estar conectados até para preencher uma ficha da Segurança Social sobre os abonos, subsídios e mais um par de botas. Estamos entalados na informação rápida e partilhada, mesmo que explique aos senhores das repartições... que não tem internet. No meu trabalho actual, não posso fazer nada sem rede e um P.C na minha frente, dias de verdadeira luta entre máquina e rede; dias em que penso muito naquele bloguista que ensinou-me a base da informática: que software é aquilo que a gente xinga e hardware é aquilo que a gente chuta... e faço as duas coisas conforme a morosidade militante do processo...
Há uma filosofia/religião japonesa que acredita que tudo tem vida, desde a torneira da casa de banho até a porta da garagem. Tudo veio de algum modo da natureza, das mãos do homem (uma das manifestações divinas) e por isso tem uma alma. OK, não vou começar a dizer que o meu Adérito tinha uma alma, ou que realmente, quando engasgava e patinava num programa era uma questão de asma crónica. Mas tinha as suas birras próprias de uma personalidade descompensada pela falta de modernização. Não sendo assim tão estranho que acabasse por batizar o dito laptop com um nome de senhor.
Nos dias que correm a descontinuação de peças e modelos é assustadoramente rápida, programas suplantam-se de semana em semana... e andamos aqui preocupados em mudar placas gráficas, memórias e tudo aquilo que acompanhe os novos programas. Senão... chapéu. Tenho uma certa alergia desta dependencia dos telemóveis, já que eu ainda fui do tempo do fixo e de memorizar os números que precisava... ou então o uso da agenda. E vivia-se na mesma, divertia-me na mesma. Não raro é esquecer-me do meu em algum lugar tal é a importância que lhe dou, mesmo para desespero dos/as colegas e amigos...e não me amola nada... é apenas uma coisa e ponto.
A nossa dependência nesse campo é assustadora, no que toca na questão de electricidade e internet/telemóvel, estamos mesmo cercados. Nas nossas mentes iluminadas, pensamos seriamente em facilitar a nossa vidinha, tornado-a mais pacata, com coisas inteligentes. Ele é o acender e apagar de luzes, ele é o frigorífico, sistema de alarme monitorizado via telemóvel, o abrir e fechar de persianas... um monte de coisas. Coisas inteligentes porque fazem o trabalho por nós, que andamos para aqui agastar as células cinzentas em coisas importantes como a casa dos degredos e o final da taça da liga.
E é nisso que eu penso, uma pessoa compra um frigorífico inteligente, daqueles que sabem se falta o leite ou o fiambre, menos uma coisa em que pensar e acha que foi dinheiro bem empregue. Olha para aquele calmeirão, ali na cozinha zunindo baixinho, e "vai-se a ver" e ele pode ser um instrumento de ciber-ataque em potencial. Tudo que seja ligado a rede, tudo que tenha um programa acessível, é porta de entrada para qualquer tipo de uso menos próprio. Fico cá a pensar com os meus botões: será que um dia há de nos bater na porta agentes da Judiciaria, com mandato de busca, foto do meliante... a cata de um um frigorífico prevaricador???
É que do jeito que as coisas andam... sempre o calmeirão do frigorífico, mesmo pesadão, não há de oferecer resistência à detenção...mas há de ser cá um par de algemas do catano... :)
Ai Adérito... a maluca sou eu, né?
Apareçam
Rakel.
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