O que seria da nossa vida sem a T.V, a comunicação social e todos os meios de informação ao nosso dispor? Ou melhor... como era a vida dos nossos antepassados, longe destes meios de informação?
É que acho alarmante o facto de que, só depois da notícia da idosa morta há 9 anos em casa, sem que ninguém tomasse providencias, servisse de mote para agora mais uns tantos idosos fossem encontrados mortos em casa...vítimas do esquecimento comunitário.
Isso que me alarma, a perda do sentido comunitário. Já ouvimos sociólogos comentarem no telejornal a respeito deste novo modo de vida que se adoptou em todo lado, de viver cada qual na visão do próprio umbigo. Poderia encher o post inteiro apenas a falar disso, nem sei se vale a pena, porque uma coisa é certa, até podem ler e acharem que estou coberta de razão, mas não vai mudar em nada o que cada um faz da sua vida.
Ontem no Alta Definição ouvi a actriz Eunice Muñoz dizer que, um dia, saía ela do comboio e, num encontrão, caíram-lhe os papéis que levava na mão no chão. E no meio daquela gente toda, do vai e vem de entradas e saídas de pessoas... ninguém a ajudou a recolher as folhas espalhadas. Ficou triste, depois colocou-se no lugar das pessoas, que segundo ela, também tem as suas vidas e estariam cansadas de um dia de trabalho e relevou o caso. Mas dá que pensar.
Dá pra pensar naquilo que hoje valorizamos como vida, a nossa mesmo, a nossa futura vida de idoso. Que eu saiba, ninguém caminha pra novo. E se a gente pensar bem, quem sabe aquilo que nos vai calhar na velhice? Um lar de terceira idade de luxo? Oba... fixe, mas o luxo paga o esquecimento? Não é lamechice... caraças, é algo que tem rondado a minha cabeça na questão: que porra de humanidade é esta? Temos toneladas de informação ao alcance de um clic, estamos fartinhos de saber o que é certo e errado, e depois, vemos que a humanidade anda podre...
No LivrodaTromba, faço parte de uma data de associações de defesa animal, e como sou democrata, vai desde o Lince Ibérico ao nosso Lobo Ibérico, os mauzões dos pastores. Animal é animal e essa elite de "coitadinhos do touros" me enchem o saco, que aliás, é apêndice que me falta. Tenho visto e lido casos que, sinceramente, animais somos nós, os bípedes de polegar oponente. Um casal deixou morrer a fome e sede uma cão numa varanda, o cadáver do animal ainda está por recolher pelos serviços camarários de higiene e limpeza. Outro foi de tal maneira torturado (não dá pra descrever aqui a barbaridade que o animal sofreu) que só lamento que as leis aqui no país sejam tão brandas.
Mas o problema não é só por estes lados...já andei a falar do que o fundamentalismo e apego à uma tradição bacoca, fazem barbaridades que já seriam anacrônicas se vivêssemos num mundo consciente do que significa a palavra vida. Vi os prémios de foto jornalismo que saíram no JN. Só as imagem por si mesma valem um tratado de sociologia e antropologia, ou até um ensaio. Convido que vejam cada uma delas e reflictam um bocadinho. É verdade, são chocantes, mas é a realidade em que nós vivemos.
A velhota do 2º esquerdo, um bocado ranzinza e calada é gente, o velhote que todos os dias compra dois papo-secos e conta sempre a mesma história é gente. Ficam em casa muitas vezes, fechados em memórias, esquecimentos e solidão.. e medo do mundo que passa por eles sem os ver. É a falta de um "bom dia, como está" que muda tudo. O cãozito, pernas curtas, ar reguila que fica a minha espera num determinado pedaço da rua com um bocado de osso para ir chutando e jogando com ele, é uma vida. O outro, com uma roupita feita com a bandeira de Portugal que me acompanha até uma determinada esquina, é vida. Ou um gatarrão lindo e vadio, que costuma ficar à porta do veterinário e me cumprimenta todos os dias... é uma vida. Chiça... será que é tão difícil ver isso? Fazer o quê?
Falta quebrar a desconfiança, porque é verdade, há quem se aproveite dessa solidão e medo para abusar dos mais fracos e ingénuos. Mas caraças, há gente boa, há quem trabalhe para o bem estar deles, seja como modo de trabalho ou voluntariado. Mas há uma coisa que se perdeu há bastante tempo: o senso de comunidade, de preocupação do vizinho, do amigo e do parente. Me pergunto se agora, os herdeiros da senhora que ficou 9 anos morta no apartamento agora arranjarão tempo para discutir a partilha do andar. Me pergunto que tipo de exame de consciência farão depois disto tudo.
Se calhar estou como aquela personagem.. a Mafalda, que acha que o mundo está doente... e me tornei chata e lamechas. Mas quando vejo que, a maior parte das pessoas acumulam conhecimentos, saberes e não fazem utilidade disso, não colocam uso naquilo que de melhor tem, isso... serve para quê?????
Inteligência é ter a capacidade de resolver um problema, e para isso, basta apenas criar vontade. Porque problemas a precisarem de solução... há por aí aos molhos...
Apareçam
Rakel.
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