Nós

Atamos coisas umas nas outras, palavras e imagens, sonhos e esperanças e tecemos vontades coloridas. Pensamos que tais nós , seguros entre eles nunca se desmancharão, que aguentarão vendavais eternamente, nunca perderão cor e permanecerão unidos numa teia infalível. Eles foram feitos por nós...

E nós...  juntamos fio e cordas, fizemos nós nas nossa vida, tentando fazer o melhor de nós nesses laços e entrançados, enrodilhados em redes onde ficam guardados os sonhos e objectivos.
Entrelacei a minha vida nas outras, meus sonhos revi nos de outros e não pensei que fosse nada de mais. São coisas tão simples. Laços e nós.

Mas o tempo desmanchou alguns dos nós, outros  nós nem demos por se desmancharem por si só. Outros que não conseguimos desfazer, por estarem de tal maneira fortemente atados, que não nos resta outra saída senão corta-los.

Temos que desatar o que já não faz sentido, desmanchar a renda de sonhos, quando a certeza é apenas uma confusão de fios mal atados, descoloridos e de fibras rasgadas.

E desfaço os meus laços, desmancho os entrelaçados feitos à pressa, e corto os nós impossíveis de desfazer. Porque o que foi feito já não tem razão de ser e os nós acabaram.

Talvez arranje novos fios, novas cores que substituam as que se desgastaram no tempo. E hei de deixa-las por um tempo, sem laços e nós, apenas ao sabor do vento.

Não há pressa.

Se não for nesta vida corrida que faça minha renda de laços e nós, fico com a certeza que pelo menos deixei os fios e cores soltos no vento...sem nós.


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Foto: Stela Rato

Letras : Rakel.