Andava eu nas intrincadas linhas do Tube procurando uma determinada música, quando numa das colunas laterais dou de caras com um video que chamou a minha atenção. Da mesma forma que muitos gajos trocam entre si por meio de mails ou até de Bluetooth pequenos vídeos, (nem a hora de trabalho serve de limite pra isso) mais ou menos apimentados, nós gajas fazemos o mesmo.
Como sempre acontece comigo, não vi apenas o video e achei o lado estético engraçado ou prometedor. Foram os comentários que me chamaram a atenção, pois foram reveladores, embora de uma forma discreta, da verdadeira natureza humana. A gente pensa que só aqui, no mundo dos perfeitos desconhecidos que há aquelas pequenas conversas. Vamos fazer de conta que estamos no cinema, um casal (namorados, marido e mulher, amigos) assiste um filme e depois na saída comenta o que viu.
Se a gaja diz que o actor era podre de bom, o gajo (amigo, marido ou namorado) começa logo a desfiar todos os possíveis defeitos do visado: é gay no armário, é drogado, bêbado, violento, burro e péssimo actor.
Se por outro lado é o gajo é que diz que a actriz era uma gostosa de babar, aí a gaja (amiga, namorada, ou mulher) começa a dizer que a dita fez não sei quantas operações plásticas, que ela tá cheia de botox, que só conseguiu o papel porque fez favores, que é bêbada, drogada e fufa.
Muita gente pensa que, quando a gente faz uma observação sobre determinada pessoa, estamos comparando quem está connosco com este pretenso modelo de virtudes e qualidades. Embora os jornais e televisão mostrem que cada vez mais existam mortes cretinas por violência doméstica, de gente anónima, de gente que por causa do álcool e drogas promove actos tristes, a comparação com um modelo giro e bom de se ver acaba por ser o único. Gente boa ou má há em todos os lugares, mesmo aqueles que julgamos normais são capazes de atitudes cretinas e absurdas.
No video que vou deixar aqui, por um lado me deixou algumas dúvidas que isto fosse um programa a sério, de jornalismo com ética. Mas depois, como é dos EUA, onde o impossível acontece, o sensacionalismo e os actos venais são colocados a nu sem mais justificação que as audiências... sei lá. Até nem parece fora do comum. Bom, trata-se de um daqueles programas tipo Fátima Lopes, ou Goucha, onde notícias se misturam com outros assuntos do mundo cão, mesmo que o programa se chame Bom Dia.
Neste, conta-se a história de um bombeiro que posava semi-nu em calendários (normal nos EUA) com fins beneficentes, que morreu num incêndio. O apresentador com um sorrisinho sacana fala do bombeiro que apesar de ter não sei quantos de tórax, não sei quantos de bícepes e apenas 4% de gordura corporal, morreu (ora toma lá que é pra veres que todo esse exercício e esse corpinho sarado não te ajudou né? Olha pra mim, que sou normal aqui vivinho da silva. Tá certo, se subo 3 lances de escadas fico arfando como um asmático. Mas tou vivo e tu não seu safado!!) num incêndio.
A apresentadora, penalizada pela morte de um gajo tão sexy, diz que foi uma perda grande pra cidade de N.Y e vai de entrevistar a viúva. Larga logo um "Seu marido era incrivelmente sexy!!" Caraças, nem as condolências deu, lembrou à viúva que o marido era "ui" e ficou com aquela cara de "que pena que nunca provei disto". Enquanto desfiavam por um lado o incrível físico do rapaz, por outro falavam da mania dele tirar a roupa, o lado humano foi pra urtigas. Mesmo assim, tentando afivelar uma cara de sério o apresentador foi sempre mandando tacadas do tipo "tanto caparro e não foi capaz de se salvar", pra uma viúva chorosa com a perda. Chegaram ao ponto de perguntar se ele estava vestido ou não quando foi pro incêndio... caraças...a sensibilidade chegou ali e fugiu.
No final, o apresentador dá os sentimentos e diz que provavelmente ele estará a fazer elevações com os anjos...
A natureza humana por vezes é tão mazinha...tão mesquinha...
Apareçam
Rakel.
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