Depois de ter passado o dia anterior a beber de tudo pra se refrescar, varado a noite na mesma dieta líquida, onde até já se enjoa de tudo que se bebeu, acordamos pensando no banho (que muito provavelmente será um dos 3 do dia) e refrescar o corpo. Mas mal a gente sai debaixo do chuveiro e nos mexemos um bocado, já pensamos seriamente em voltar pra debaixo da água.
Embora o Verão ande numa de bipolar, com uns dias farruscos e até chuvosos, quando se lembra da sua verdadeira personalidade aquece até esturricar o cérebro. Quem deixa o carro na rua, experimenta a sensação de sauna que é entrar nele. O volante queima nas mãos, respirar parece impossível, abrem-se as janelas ar condicionado no máximo...tudo em nome de não cozinhar feito lagosta no carro.
Se você tem a sorte de ter uma casa como a minha, tá tramado: no Inverno não pega uma nesga de sol, mas no Verão recebe toda a generosidade do astro rei de chapão. Daí que andar aqui em casa com algum conforto resvala na semi-nudez ou nudez total no Verão ou vestido com algumas 4 camadas de roupa no Inverno. As casas não estão preparadas para o clima. Entre humidade e mal isolamento, venha o capeta e escolha.
Quanto mais penso no assunto, mais me lembro das casas antigas lá no Alentejo. Meus avós tinham duas na mesma aldeia (nada de luxos, necessidade mesmo) de paredes grossas, frescas no Verão e aconchegantes no Inverno. Isolavam de forma maravilhosa a temperatura. Passei lá alguns Verões, onde era obrigatório fazer a sesta nas horas piores. Dava mesmo pra fritar ovo nas pedras da calçada, porque a inteligência rara do meu irmão fez isso um dia em pura tentativa cientifica de experimentação. E fritou, não em segundos como na frigideira, talvez levou um minuto, mas ficou a gema no ponto certo, sem gordura e que o cão da minha avó agradeceu tamanha dádiva.
Com a continuação destas caloraças, o povo que andou o Inverno todo sonhando com as férias, o mar, roupa leve e uma certa liberdade...agora se queixa até mais não. Não consegue dormir (pegue num livro, ou vá pra varanda ver a noite), sua muito (poupa sauna) perde o apetite (olha que bom, fazendo dieta) fica mole (descansar é uma necessidade) e se constipa por causa do ar condicionado gelado dos diferentes lugares onde vai ou trabalha. Chatice.
Mas podem apostar que quando chegar pelo meio do Inverno, naquelas semanas que o azul do céu vai dar lugar à um compacto cinzento de cacimba, meio mundo há de chorar com saudades de andar meio pelado pela casa a comer talhadas de melancia gelada, de pés no chão e aproveitando a noite pra ver as estrelas ou a fazer coisas melhores...
É que nascemos com esta veia inconformada e insatisfeita. Quando se alcança um estado, não se tira o melhor partido dela...porque não vai durar muito tempo. E deseja-se o que não tem, e quando tem, arranja-se uma data de defeitos pra rejeita-la. Somos uns chatinhos não é??
Apareçam
Rakel.
P.S a foto deste post é da aldeia onde eu passava os Verões, nessa mesma rua ficava a casa onde eu ficava e ainda a casa onde a minha tia ainda mora...
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