A Anatomia do Fim


Quando se chega ao fim de qualquer coisa, geralmente é sinal de que já se caminhou muito. Não acredito que uma coisa que dure pouco tempo chegue ao fim, apenas nem sequer começou. Pra mim as coisas tem que ter conteúdo para que tenha um começo, um longo meio e um fim rápido e indolor. Poder olhar para trás e ver que se deu tudo, abertamente, sem falsidades e sem dramas e poder andar de cabeça erguida.

No último sábado, estive com as minhas amigas de sempre, de longa data e com histórias de vida completamente diferentes uma das outras. Conversámos sobre muitas coisas, principalmente de pessoas que conhecemos, que eu já não vejo há uma parga de tempo, mas que são conhecidos e amigos comuns. Em frente de um copo de sangria gelada (elas, porque eu tomei um anti alérgico e fiquei só olhando...) e ao som de uma banda de covers, numa explanada improvisada estivemos a rir e a lembrar velhos tempos.

Nessas perguntas de como vai fulana e risadas, chegou-se num ápice no estado de "Conceito de uma Família Bem". Num meio conservador, tradicionalista, onde ter uma grande casa, dois carros de marca e uma aparência pinoca dá logo estatuto de gente Bem é fácil fazer o modelo. O mais engraçado disto tudo é que os actuais Gente Bem foram felizes anónimos, Zés e Marias ninguém que por vias de casamento alcançaram um estatuto de Gente Bem.

Casam-se e durante um par de anos a coisa até corre bem, aí começa aquele jogo de fazer pela vida fora de casa, debicar em terrenos alheios, na maior cara de pau, onde nem ele poupa as amigas das legítimas ou mulher dos amigos, nem ela poupa os amigos dos marido e os maridos das amigas. Mas em público e como casais, afivelam a maior cara de pau de gente Bem, a Sacrossanta Família. De manhã levam os filhos aos escuteiros e à tarde à catequese. Mas de noite levam à casa das meninas para que o seu filho se inaugure (entre os 12 e os 15 anos) na senda de vida de Homem.

Eu pensava que gente Bem ensinava conceitos como: Honra, Honestidade, Inteligência, Civismo, Educação, Trabalho. Disso são feitos grandes homens, grandes mulheres. Mas parece que não, parece que Gente Bem é aquela que vive na hipocrisia da farsa, do faz de conta e de dissimulação. Por detrás dessa fachada tosca e mal alicerçada de vida, criticam quem tem a frontalidade de, perante um fim evidente procurar a saída mais correcta e justa. Não... há pior. Há quem prefira, mesmo sabendo deste tipo de vida, que não lhe satisfaz fechar os olhos e não perder o estatuto de Senhora Fulano de tal e ou Senhor Fulano de tal. Porque sabe bem a vivenda, os carros, os cachuchos nos dedos, e mostrar que tem um marido ou mulher pra compor o cenário.

Supondo então, que uma mulher se sinta sem outra saída senão a separação acontece um outro fenómeno interessante. As conversas e teorias. Ela vai se separar porque já tem outro. Ela vai se separar porque anda só com divorciadas. Ela vai se separar porque não regula bem da cabeça.

Mas se por acaso for ele a pedir a separação, sempre há de bater a mesma coisa: coitado, ela lhe fazia a vida negra de tão ciumenta... ela não batia bem da cabeça...ela o castrava demais... controladora...

Bom, antes de mais nada vamos acabar aqui com alguns mitos:

1º - Se uma mulher pede a separação, tem os ovários no lugar e assume que está saindo porque quer estar com outra pessoa...os meus parabéns pela frontalidade e honestidade. Você é uma mulher de verdade e gente de Bem. Se isso não existe... não inventem. Fica feio e mal...

2º - Andar com divorciadas não é doença infecto-contagiosa, nem passa como osmose. Uma mulher não acorda de manhã e decide se separar. As coisas vão caminhando para isso, perdeu-se muitas coisas pelo caminho e não é um capricho tipo: "olha, se as minhas amigas são eu também quero!" Isso é o maior insulto à inteligência da mulher e a maior prova de que, quem vive connosco... não nos conhece de facto. Foram anos de perda de tempo.

3º - Esse conceito de que toda mulher é maluca e histérica (porque só pode estar louca pra largar um homem tão bom quanto eu) é batida e com barbas. Já não cola. Quem atira com telemóveis às paredes, agridem física e verbalmente, quem não tem outro argumento válido senão a violência para combater uma situação e não tem resposta para a suas frustrações... é quem não bate bem. E nisso, não há exclusividades, tanto pode ser ele ou ela.


As três explicações acima servem pra ambos os casos, sejam eles ou ela que resolvam parar de fazer a imagem de Gente de Bem, da farsa da Sacrossanta e vive a sua vida com a honestidade requerida.

Lamento muito que apesar de estarmos num novo século, de uma era tecnologicamente avançada, as mentes continuem atrofiadas e apegadas à conceitos bacocos. E assim caminha a sociedade, um infeliz, tocando a vida a espera de um milagre que nunca mais chega para resolver o casamento, enquanto o outro, que eu chamo de nascidos sob o signo da alforreca (invertebrados que se deslocam ao sabor da maré), debica de um lado para outro. Tendo como alvos preferidos pessoas com evidentes fragilidades...como familiares doentes, baixa auto estima, afivelam o papel de bom amigo. Desconfiem destes bons amigos, destes que dizem que tudo é especial. Invertebrados, de coluna mole como são mentem com quantos dentes tem, pensam que distribuem felicidade, mas apenas distribuem a realidade: são falsos.

Na minha óptica, definitivamente não me encaixo no Conceito Gente de Bem. E nem tenho pena disso.


Apareçam

Rakel.

Comentários

  1. Não às alforrecas!

    Tu pertences sempre a ti, não és de ninguém. Mas és mulher e mãe e praticas o bem. Isso é ser gente do BEM, quanto a gente de bem...não há pachorra para tanta fantasia, até parece aquela fase que todos passamos de brincar de casa de bonecas. Aquela que acaba quando brigamos com a amiguinha que entra no nosso espaço, ou com o menino que não ajuda em nada, porque quer ser o Ken, só amiguinho, não faxineiro. Por isso, deixa as alforrecas e os vampiros armados em leões...a vida é bem melhor quando existem sentimentos profundos e comuns como a amizade, né?

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  2. Bellona...a vida é feita de amigos mesmo! Daqueles que a gente dá a nossa confiança e a vê bem guardada e respeitada nas mãos desses amigos.
    Daqueles ke nos puxam as orelhas uns dias e depois nos dão o ombro, riem connosco. Poucos são eles.. é verdade, deixamos alguns pelo caminho pelo facto de vermos ke a confiança ke depositamos neles...não foi reconhecida. Prefiro asim, poucos mas bons amigos do ke falsos enlaces...

    Concordo contigo e assino por baixo.

    Bjos

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