Passeio de Estudo ou um Regresso ao Passado


Antes de mais nada, fico a saber que quanto mais penso que conheço as pessoas, mais elas me surpreendem...


Posso dizer que, durante uns bons anos, direi mesmo, mais dos que devidos, fiquei fora das lides dos concertos, e outras actividades culturais/recreativas. Há uma certa intolerância contra o facto de que, mesmo sendo mães, somos pessoas, e como tal ficamos naquela linha meio cinzenta do correcto e incorrecto. Tudo depende do tipo de mentalidades. Durante anos, as minhas idas ao cinema se limitavam aos infantis, embora goste muito de um bom filme. Mas foi o que se proporcionou e nunca reclamei muito, porque de uma maneira ou de outra acabava por ver os filmes que queria por outras vias. Mas há todo um ritual de sair de casa para uma diversão que perdi parcialmente.

Santarém todos os anos promove a Feira da Agricultura, um certame emblemático da cidade que frequentei ainda no tempo que duravam 15 dias...
Era não só uma forma de manter o orgulho ribatejano em alta, como lembrar das nossas raízes culturais. haviam os pontos de encontro antes das picarias nos locais famosos :  em frente a Magos, pavilhão 1, ou a rua do Crime, ou em frente das batatas fritas :)

Daí começava-se logo a guardar lugar nas varolas para a picaria, para desespero da minha mãe, pois encontrava-me lá empoleirada em equilíbrio precário entre o meu irmão e a minha prima...
As voltas pelo artesanato, com representação de diversos países e regiões de Portugal, os diferentes expositores e a possibilidade de ver o garbo dos Campinos em cima dos cavalos naquelas tardes quentes de Junho...e a gente ainda com aulas...

Há um marco sempre nas nossas vidas, e a minha foi sempre marcada por música. Posso dizer que na minha cabeça tenho uma banda sonora constante. Há músicas que me transportam à lugares e situações que só eu sei...Uma delas, acabada de chegar a terras lusas, ainda em Lisboa, me vi na contingência de ter que comprar roupa (ó sacrifício meus deuses...  :) porque as minhas malas ficaram retidas em São Paulo por excesso de peso. Daí que na extinta Porfirios, estava eu no trocador a entrar nuns jeans novos...quando me dou conta do som da loja...uma rocada, mas cantada em...parecia russo.

Saí do trocador, olhei pro meu irmão e disse: "olha que louco cara...rock russo!!" Minha tia me olhou com cara de espanto e disse: "russo nada...é português, chamam-se UHF e o tema é Cavalos de Corrida!"
No dia seguinte a minha tia nos deu a conhecer o Rock'n'stock...programa de rádio dos idos de mil novecentos e coisa e tal e aí ouvi pela primeira vez os Xutos. Daí pra frente, por mais que os meus gostos musicais entrassem por outras vielas, fatalmente voltava aos Xutos. Acompanhei desde essa época as andanças deste grupo de músicas proscritas (como diz bem nosso amigo Calimero), contundentes e actuais.

Mas nunca tive a oportunidade de ir vê-los ao vivo...aquela coisa que...filha minha não vai, por coincidência assim que eles apareciam perto da cidade a minha mesada ficava cortada...essas coisas que ninguém explica.

É claro que por ordem natural das coisas, dei a conhecer os Xutos aos meus dois filhotes, que agora com 19 e 15 anos já entendem melhor as letras. Mas gostava de leva-los para ver ao vivo (lógico que esta boa intenção minha era completamente inocente, sem quaisquer ganhos pelo meio), sem acontecer o momento certo.

Desta vez, pela conjunção astral que só e acontece uma vez de 10 em 10 anos, houve a oportunidade de, não só poder ir à Feira da Agricultura, como também poder ver os Xutos. Formamos um grupinho de mães, eu, Stela e Ana, com os nossos filhos (todos rapazes) e lá fomos nós. Para muitos, enfrentar a fila de transito só para chegar perto do recinto seria motivo de sobra pra fazer marcha atrás e voltar pra casa...perdia-se de vista, todo e qualquer canto servia pra colocar o carro de esguelha e em contravenção. Mas conseguimos uma saída airosa e  chegamos ao local. As entradas, gentilmente arranjadas pelo nosso amigo Zé Calimero, caíram como ginjas, já que a fila pra comprar era....pior que a da sopa quente.

Aí, nós as gajas do 2x20, ainda com as letras na ponta da língua... cantamos e abanamos a cabeleira ao som das músicas que nos acompanharam durante estas décadas, finalmente pude cantar em plenos pulmões sem que meus filhos dissessem que eu deveria ter pena dos vidros... ali no meio, com tanta gente a cantar, a minha voz era apenas mais uma. Será lugar comum dizer que havia um encontro de várias gerações, umas que como eu cresceram com os Xutos, outras que cresceram ouvindo o que os pais ouviam...e foi giro, muito giro. Pra quem realmente gosta e se deixa levar...


Apareçam

Rakel.

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