A Procura do Estado Zen


Há muito pouca gente que consegue me emocionar, ou tocar lá bem no fundo, naquele lugarzinho escondido e resguardado de mim. Daquelas pessoas que me fazem crescer uma admiração quase venerável. E um destes escolhidos à quem deixo que me toquem na alma é um senhor muito bem disposto e com muitas qualidades chamado Dalai Lama. Não vou aqui dissecar a vida e obra dele, porque cada um deve procurar saber aquilo que quer. Nem serei eu a dizer que devem segui-lo, ou então que ele está absolutamente certo em tudo. Só sei que ele fala numa linguagem que eu entendo e que me desperta para algumas coisas.

Ando numa fase caótica de vida, com uma grande dose de revolta e descontentamento, daquele tipo que não se põe pra fora e fica fermentando aos poucos. E por não soltar cá pra fora, acabo por me deixar levar nessa bagunça de sentimentos, que por fim, me deixam bastante abalada.

Daí que neste Fim de Semana, entre altos e baixos de pensamentos e numa tentativa de organizar aqui dentro este caos, caiu-me nas mãos um livro de comentários do Dalai, que li num fôlego só e que depois digeri cada palavra.

" A principal causa do sofrimento é o desejo egoísta do nosso próprio conforto e da nossa própria felicidade"


Se há coisa que me transtorna imenso é o sofrimento, não sei lidar com o sofrimento alheio, nem aceito bem essa convicção fajuta e bem dogmática de que com o sofrimento saldamos as nossas dívidas...
Ou que ao sofrer estamos mais perto da salvação, que deus (esse ser que escrevo em minúsculas, que do alto da sua grandeza se sente agradado de sentir o sofrimento alheio) vê nos nossos sacrifícios o quanto o amamos e tememos. Não cabe nesta pobre cachola meio marada esta cena. Não entra mesmo.

E daí venha todo este caos que anda em turbilhão cá dentro de mim, porque sou egoísta. Egoísta ao ponto de achar que para que eu tenha paz e seja feliz, precise saber que os outros também são felizes. Os que me são mais próximos e aqueles que não conheço sequer.



De uma mão mal cheia de pessoas que realmente me conhecem, que sabem das minhas convicções como pessoa física e espiritual, sabem como me abate e até que ponto me envolvo nas coisas que me rodeiam.
E esse envolvimento me faz por vezes cair na revolta, porque ainda não achei um significado digno pra sofrimento. Se tudo tem uma razão de ser, se tudo tem um propósito na vida, será que o sofrimento apenas serve para se dar valor aos momentos de não sofrimento??

Há coisas que ainda não consigo descodificar, e quase que vejo a Catequista, uma amiga minha que diz que meu mal é falta de fé, abanando a cabeça ao ler isto tudo. Porque fé faz engolir tudo, na esperança que as coisas melhorem. E não há Becel suficiente neste mundo pra me ajudar engolir tantas coisas assim de graça.

Agora quase vejo a minha amiga Vera, esotérica de carteirinha e lugar cativo me dizendo pela milésima vez que meu mal é a falta de um lugar de paz e conforto dentro de mim, a minha floresta de meditação interna onde consiga ter paz. Um lugar de estado Zen permanente, onde a palavra de ordem é a paz para encontrar forças para lidar com o sofrimento do mundo... Acho que a única forma de encontrar esse estado Zen só mesmo de anestesia geral, daquela medicamentosa mesmo...

Não quero que fiquem com uma imagem errada deste assunto, não vim aqui deitar uma imagem de auto comiseração, de "ai eu sou tão 'tadinha... sofro de tão boa que sou". Porque não sou, não me arvoro em Madre Teresa, nem acredito em santidade, quem já leu posts anteriores a este sabe bem que não é por aí.
É a falta de significado do sofrimento, é da minha falta de jogo de cintura pra saber lidar com estas coisas e de uma revolta total ao ver que cada um poderia fazer um pouquinho pra ajudar a melhorar este planetinha azul... e não faz.

É sentir que o que sei, o que faço e que tento fazer não me deu respostas. Só me colocou mais dúvidas e incertezas. E quando li esta frase do Dalai, pensei muito. E agora não sei se sobrevalorizo as tragédias e sofrimentos, não sei se essa necessidade de querer, a todo custo, que haja uma felicidade real e total nos outros para ser feliz, não seja a minha pedra no sapato. E fico aqui pensando, neste estado de sofrimento causado pela falta de conforto interno...desta necessidade, que eu não vejo como egoísta, de ver a felicidade geral. Será que tenho que realmente me conformar que as coisas são assim, agarrar no cobertorzinho e na chucha emocional da fé e fazer uma soneca num lugarzinho Zen bem confortável e alheio de tudo?

Nesta bagunça toda de pensamentos e palavras... não posso deixar de agradecer o facto de amigos recentes e muito antigos me darem seu apoio e me aturarem da maneira que fazem. Jess... só tu mesmo pra me aguentar...

Apareçam

Rakel


Comentários

  1. ... gostava de poder deixar-te algumas palavras de ânimo, de poder até ajudar-te se soubesse como... não me ocorre nada de jeito para escrever... acho que me movo num estranho limbo, e nem gosto de lá pastar já que limbo, será um local onde estarão as almas das crianças não baptizadas, logo,isto revolta-me as entranhas! estupida religião!.... então, se não for limbo, poderá ser o quê? marasmo?! ok, pode servir. acabei por vir destilar mágoas que não interessam e tu, já tens que chegue... ouve-me só e lixo com o discurso.. beijo e coragem! pra frente é que é o caminho

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  2. Cara Rakel, eu nunca te disse que o teu problema é falta de fé! Nem me atrevia a tal, porque tens mais fé (naquilo em que acreditas) do que muitos que se dizem pessoas de fé.
    Mas há uma coisa em que discordo de ti!
    Não acredito que Deus (e eu escrevo convictamente com maiusculas) esteja contente por ver o nosso sofrimento (não acredito que o sadismo seja um dos Seus atributos).
    Sucede que Ele na Sua boa fé (sim, acho que Ele quando nos criou, fê-lo com boa intenção), criou-nos com uma coisa muito chata chamada LIBERDADE. E somos nós naquele "desejo egoísta do nosso próprio conforto e naquela tal busca pela nossa felicidade", no exercício dessa tal de chata liberdade que, conscientemente ou não, prejudicamos os outros à nossa volta e e lhes causamos todo o sofrimento.
    E nem as catástrofes escapam!
    Basta ver como tratamos o nosso planeta!
    Tudo isto é obra nossa, não de Deus.
    Por outro lado, que Deus seria esse que nos deu a liberdade e depois no-la tirava?
    Não seria esse um acto de maior má fé que nunca poderá caracterizar Deus?
    Que eu saiba, um filho que se torne maior de idade, capaz de tomar as suas próprias decisões, nunca voltará a ser menor
    Além disso: "quem dá e volta a tirar ao inferno vai parar"

    Voltei a esticar-me, gaita!!

    Beijinhos, e eu sei que essa revolta vai passar

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  3. Catekista... estica-te! Porke tu com 1,80 cm deves ficar um espectáculo de gaja!!! Não discuto a lei do livre arbítrio, a gente já falou disso demais. Mas não haja dúvida ke deus, na sua faceta mais poderosa poderia de vez em qdo dar o ar da sua graça e ajudar a arrumar esta bagunça.. não achas??

    Continua a comentar e a me dar luta... sabe ke eu me pelo pelas nossas conversas...

    bjocas

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  4. Martinha... ô cachopa... fica assim não! As vezes eu preciso é de um bom pontapé no traseiro pra deixar de ser fresca. Essa coisa de ter peninha de mim mesma, não dá certo, porke só dura uns tempos. Mas se tu estiveres com algum problema, estamos aki pro ke der e vier!! Porke isto de coisas de gajas... a gente tem ke se ajudar né? Só o facto de sentires vontade de ajudar é uma energia positiva boa... construtiva e isso agradeço muito de ti. E ao invés de te sentires assim meio em baixo...escreve , nem ke seja só pra ti mesma... larga tudo no papel. É um bom começo para organizar as ideias. No mais, podes ontar comigo pro ke for ok?

    Bjocas

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  5. Eu concordo contigo, e quem me dera k Ele às vezes fizesse isso, viesse arranjar a bagunça em que nos metemos, mas...
    Arrumas o quarto dos teus filhos, ou mandas eles arrumarem?
    Quando eles caem, levanta-los ou deixa-los levantarem-se? Embora os possas ajudar.
    Eu sei que já falámos muito disso, e muitas vezes, e eu continuo a achar que Ele nos dá ajuda e instrumentos para resolver, mas só quando nós não conseguimos mesmo é que Ele resolve.
    É aquela questão velhinha de dar o peixe ou a cana e ensinar a pescar.
    Mas concordo contigo, Ele, de vez em quando, podia dar as duas mãozinhas em vez de só uma.

    Beijo, e espero que o desânimo e a revolta já tenham passado.

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  6. Catekista.. se eu não vou de vez em qdo dar uma volta nos quartos dos rapazes... só dá pra entrar lá de catana na mão e com fato de guerra bacteriológica. A gente tem sempre ke intervir qdo necessário... não achas?... senão fica um zonão...

    bjo

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  7. Não resisto!!!

    Mas fazes, ou mandas fazer???

    Só depois de veres k eles não vão fazer mesmo (ou está para além das possibilidades deles) é k fazes tu, certo???

    E mesmo assim, a maioria das vezes não se escapam do castigo.

    Ai k esta conversa dava pano para mangas!!!!, como sempre deu

    Jinho

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  8. Eu gosto da expressão "Pano para mangas". Quem será que se lembrou disso :D

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  9. César.. se calhar foi pra alguém ke tinha braços compridos e sempre se keixava de ter pouca manga.. até ke axou a loja com mangas certas... muito pano pra manga :)

    Bjo

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