Menino Pode, Menina... Não!!! De jeito Nenhum!!!!!

A sociedade tem a muleta já bem velhinha de dizer que nós somos o fruto da maneira que somos criados, ou então, da forma que a sociedade está estruturada. E daí, toda uma cambada de entendidos e eruditos desfolham as suas teorias e estudos comportamentais, que se por um lado explicam, por outro não resolvem.

Da minha parte, acho de um facilitismo comodista está base de sociedade de carneiros que adoptam as mesmas muletas das gerações anteriores. Porque embora tenhamos uma base de modelos morais e sociais, cabe à nós por julgamento próprio decidir o que é melhor para nós. E nem sequer impingir as nossas vivências como verdades absolutas, apenas como teorias. Ok,é a minha voz Anarquista que se levanta clamando pelos seus direitos...

Mas tenho que ser honesta, passados tantos anos e mudando as gerações que escolheram outros caminhos que não os dos outros, ainda prevalece essa coisa nojenta de menino pode, menina não.

Eu fui criada nessa base. Menina de bem não faz isto, menina de família não faz o outro...enquanto meu irmão ia fazendo "de um tudo" sob o olhar orgulhoso e paternalista dos meus pais. Tipo...

Meu irmão, lá pelos seus 13 anos, foi junto com uns colegas à uma festa de Carnaval, numa daquelas festas de clube de futebol, se não me engano era da Portuguesa de Desportos....eu, claro está, não pude ir...não me deixaram.
De volta pra casa, o rapaz trás estampada na cara uma tatuagem provisória de cinco dedos e uma palma da mão. Em conversa, já na mesa do jantar, meu irmão contou que deu um apalpão numa menina e que ela puxou a culatra atrás e lhe deu uma bela bifa na cara...tipo, três quente e dois fervendo, daí o souvenir lindinho que ficou abrilhantando a focinheira dele.

Meu pai, todo orgulhoso da façanha do seu menino de ouro, virou pra ele e disse:

- Deixa estar meu filho.... essas coisas acontecem com todos os rapazes, mas olha, ela fez isso, mas até aposto que gostou. As mulheres são assim, fazem-se de ofendidas, mas até gostam dessas "atenções"...

Eu, que já na altura usava a Marineusa e a Maria da Conceição (meus dois neurónios), virei pro meu pai e disse:

Eu - Então, quer dizer que, quando um rapaz me apalpar na covardia, eu além de não poder ficar ofendida, tenho que gostar, porque TODA mulher gosta...

As sobrancelhas do meu pai se juntaram e afundaram até ao queixo, deu um murro na mesa e rosnou:

Pai - Se algum dia acontecer isso, primeiro é porque escapaste da minha vigilancia, segundo o rapaz fica com os ossos todos partidos...!!!!!

Eu - Mas então, a menina também é filha de alguém, tem irmão e tudo isso, já pra não falar na falta de educação do seu filho andar prai apalpando toda fruta que tem na frente. Só porque é menino e pode!!!

Pai - Calaboca, come. Acabou a conversa.

Daí que eu, fiquei com o exercício dialéctico do pensamento cortado pela raiz, porque meu pai não teve outro argumento senão mandar-me calar. E eu calei... só pra não ter que ficar mais um mês de castigo e sem mesada...
E cresci assim, cheia de NÃOPODE (as duas palavras que na minha casa se transformaram numa só  de tanto uso que tinha), de menina de família TEM que ser assim ou assado. E eu, conforme ia crescendo, ia fazendo o que podia para balançar esses alicerces carcomidos e vetustos.

Daí que, no outro dia, numa conversa com um amigo, quando falávamos sobre a forma de criar os filhos e tals... eu disse a forma como crio os meus. Numa base de respeito e de abertura, falamos de tudo, e disse que meus filhos sabem da minha opinião sobre relacionamentos. Que ainda é muito cedo pra eles se prenderem à uma única pessoa, que devem conhecer, experimentar as diversas fases...e que na gaveta do armário da casa de banho, ficam os preservativos. É self service. Não precisam de me pedir, tá lá e é uma forma de preservar a privacidade de cada um (um direito absoluto que exijo e respeito).

Aí o meu amigo larga esta : "Pois, tu tens dois rapazes... farias o mesmo se tivesses uma filha?"

A resposta indubitável é sim, faria o mesmo se fosse uma rapariga. E mais, daria a minha opinião isenta de muletas, seria o mais justa que pudesse. Nem ia fazer das minhas ideias as dela, como não impinjo as minhas aos meus filhos.
Dou a liberdade que cada um faça as suas próprias opiniões e juízo de valores. É um direito básico de cada um de nós.

E se quem me lê pensar um pouco, até nem é muito difícil fazer isso...é só lembrar como se sentiu injustiçado/a porque a força do TEM familiar é pesada. Tem que ser doutor, tem que ter canudo, não, música não é profissão, canudo sim é que é bom e a gente banca a factura....

E andam praí os pais vivendo nos filhos os sonhos que lhe podaram e fazendo a mesma coisa com as crianças que tem em casa...impondo critérios e valores que não são os de mais ninguém senão deles mesmo. Orientação é uma coisa, imposição são outros 500...

Pensem bem...

Apareçam

Rakel.







Comentários

  1. Pois é!!!
    Já tinha saudades da Marineusa e da Maria da Conceição!!!
    E sei que tudo o que escreveu aqui é MESMO do fundo do coração!!!

    Beijo

    ResponderEliminar
  2. Nem podia ser de outra forma minha santa...! ou se escreve com alma...ou não vale a pena..

    Bjo

    ResponderEliminar
  3. Olá Rakel
    Nem sequer é a propósito deste post que,tal como todos os outros,está uma maravilha! Vim até aqui sómente pra lhe dizer que tenho estado a ler alguns posts do outro blog, porque a mitologia me encanta e porque a sua maneira de abordar o tema é GENIAL!!!! Eu rio a ler as suas explicações! Que bom ter conhecido o seu trabalho!

    ResponderEliminar
  4. Martinha, sempre achei ke a história é uma coisa dinâmica e não chata pra ser recitada... Sejam lendas, sejam factos históricos tudo pode ser mais interessante dependendo do ponto de vista.
    Aproveita e lê tbém os marcadores de Reciclagem...e verás ke o mundo recicla pra pior...Se tiveres alguma historinha ke keres ke te conte da minha maneira.. é só pedir.

    ResponderEliminar
  5. Não disponho de muito tempo e este universo bloguista é viciante (ai os vícios... sou vulnerável...) :) mas gostava muito de me entreter por aqui,na boa,sem pressas, a deliciar-me com a tua escrita! (às vezes sai você,outras é tu.. enfim.. )
    Beijo bom em jeito de incentivo!

    ResponderEliminar
  6. Na boa, lê ao teu ritmo e faz as sugestões ke keiras e comente sempre...a gente gosta!!

    Bjp

    ResponderEliminar
  7. oLÁ, menina! Bela reflexão! Realmente, vivemos numa sociedade machista e hipócrita! Reconheço, é difícil se livrar dessa ideologia, mas procuro não reforça-la em minhas atitudes! Mas, para mim, os grandes culpados não são os pais, mas sim as mães! Já parou pra pensar que na maioria das família, são as mães que se encarregam da educação dos filhos? Se, nós homens acabamos nos tornando machistas, é por culpa de nossas mães que nos criam assim! rs Um bjo!

    ResponderEliminar
  8. E não será também culpa dos homens que se abstêm de participar na educação e largam tudo nas mãos das mães?? Quantas vezes não estão eles mais preocupados em julgar do que participar? Felizmente há uma nova geração com a consciência mais participativa e que não leva tão à sério o seu papel de ganha pão da casa. Tá na hora de acabar com esta falta de atenção, dessa mania do "Agora não" ou "Porque sim" e "Aqui mando eu e se não gosta já sabe onde é a porta da rua".

    Bjo

    ResponderEliminar
  9. hihihi, deve ser duro ser mulher :p

    ResponderEliminar
  10. o César...os obstáculos só fizeram de nós pessoas mais imaginativas e combativas...

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Estamos ouvindo