Espelhos

Geralmente as pessoas não me levam a sério. Nem sei porque isso acontece, não acho que tudo tenha que ser tratado de maneira seca e cheia de arestas. Mas a bem da verdade, a gente reflecte sempre um pouco naquilo que escreve e diz. Uma coisa é aquilo que a gente sabe que é, que se conhece e outra bem diferente é a imagem que fazem de nós. Ainda outra é aquela que podemos dar de nós. E mesmo assim, os muito poucos que nos conhecem, não sabem de tudo o que somos (graças os céus) mas tem uma boa ideia daquilo que somos capazes.

Sei que as vezes, ou muitas vezes, reajo de forma absolutamente ao contrário do que pensam que vou responder. Diante de uma coisa demasiado séria tenho que como uma necessidade de dar pouca importância e até mesmo fazer pouco. Nas coisas divertidas acabo por dar uma de Tia Esmeralda ( aquela tia solteirona e beata chata pra caramba) e dou aquele discurso meio parvo que invariavelmente dá em risota.

A vida é séria demais, cheia de responsabilidade, horários e obrigações importantes. E embora o meu fundo Anarca se rebele contra ele, levo cada coisa com grande responsabilidade e objectividade. E por isso mesmo, porque dou valor e seriedade às coisas realmente importantes, dou aos demais problemas desta vidinha de delícias a importância que lhe cabe. E sinceramente, não gosto de ver ninguém triste. Mas não julguem que ando praí feita Pollyana , meio boba alegre dizendo disparates a torto e a direito. Mas de vez em quando saem assim uns pensamentos... que não me apercebi, que falei alto...

Mas por vezes uma bobageca é bem vinda num clima deprê. Uma amiga sumiu durante meses...deixei de vê-la completamente. Um dia dei de caras com ela, cabelo muito curtinho... recém crescido...meu alarme interno de desgraça apitou. Bom, ela teve que tirar um peito, apesar de ser uma pessoa que nunca fumou, não bebia, fazia imenso desporto, enfim, vida saudável. E ela, naquele tom que a gente sabe, contando as agruras, vira pra mim e diz que estava a espera de fazer a outra fase de cirurgia reconstrutiva. E eu, sem querer..saiu-me um : UAU!! Vais ter mamocas novas!!!

Ela parou de falar, olhou pra mim entre o meio atónita e meio chocada... e desata numa gargalhada imensa. Quando parou de rir (e ficou com uma camada de soluços) virou pra mim e disse : "só tu pra te lembrares de uma coisa dessas e me fazer rir!!" E aí a conversa descambou em mamocas novas, biquinis e novo visual...e muita risada. Pena que depois o maridão deu um pé na bunda dela e arranjou uma miudita pra se entreter.

Outras saem sem eu dar por ela...A minha advogada costuma frequentar a mesma papelaria/tabacaria que eu , e a dona do estabelecimento já nem estranha as coisas que me saem assim...sem querer. Um dia, em que eu estava bem costipada, entra a minha advogada e me pergunta como estou. Respondi que tava de nariz pingão e com tosse. " Então não vou te cumprimentar" (os tais dois beijinhos na cara) respondeu a Dôtora Devogada. E eu larguei um : " Nem eu te ia dar beijos na boca..." MeoDeos...a cara dela é que me deu o toque que eu falei o que pensei...

Ela olha pra mim... e tentando não rir...diz um: Ô Rakel...cada coisa que tu dizes...
Eram 8 e meia da manhã, um frio do caramba, pelo menos já deu animação pra manhã. Mas ela, a Devogada, sabe bem que nas coisas que exigem seriedade, que era preciso ter mão firme e pensamento rápido... eu estava lá. E nas própria palavras dela, metade do trabalho que tinha que ser feito, só andou porque eu me meti de cara nele e com gana.

Da mesma forma que, quando alguém merece um puxão de orelhas, ou uma reprimenda, consigo fazê-lo, sem berreiro, insulto ou gritaria.

Ao fim e ao cabo, acho que nunca reflicto aquilo que esperam ver de mim. Nem sou aquilo que querem ver em mim. E na verdade, na primeira impressão que tomam quando me conhecem, geralmente ficam com uma ideia muito distante do conteúdo. Dificilmente sou linear, previsível ou adequada. Só conhecendo mesmo. E mais não seja, não fosse eu mulher, já bastava como explicação.

Da mesma forma que, não sou bem aquilo que esperam, da mesma forma não faço juízo de valores com que começo a conhecer. É dar tempo ao tempo, ler nas  entrelinha e nos silencios e ir dando espaço para que cada coisa aconteça ao seu tempo.

Apareçam

Rakel

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