Desde o beijinho no joelho esfolado de uma criança, o beijo inocente na bochecha de um amigo até o acalorado entre amantes, o beijo é daquelas coisas que fazem falta.
Recuando bastante no tempo, beijar poderia ser um sinal de respeito (Beijo de Rigor), como poderia ser quase considerado um pré desfloramento. Alguns povos bárbaros chegavam a acreditar que no beijo se transmitia um pouco da alma e por isso só era dado à pessoas muito especiais. Talvez daí venha aquele mau humor deles e a vontade férrea de destruição: faltavam beijos.
Já entrando mais para a segunda metade do século XIX, na Inglaterra vitoriana era algo ousado, mas muito, mesmo muito desejado. As mulheres, as de família, usavam no dia a dia vestidos com gola que tapava o pescoço, mangas até aos punhos, muito decoro e todas essas coisa vistas de bom tom. Mas nas noites de baile, os decotes desciam, as mangas desapareciam e o flert, o abanar de leque enviavam mensagens veladas aos cavalheiros: "beija-me, ama-me".
Beijar as pontas dos dedos, a parte interna dos pulsos, as palmas das mãos e o pescoço eram o ponto mais erótico entre os casais. Na boca, os cavalheiros durante muito tempo tinham que aceitar o chamado beijo carimbo, rápido e de lábios fechados. Até chegar ao famoso beijo francês...muitas promessas, juras de amor e etc.
Os romances como Drácula fizeram tanto sucesso na época porque o vampiro beijava e mordia partes consideradas erógenas. E a imaginação voa na falta de algo melhor. Felizmente, com as golas subidas tão recatadamente era fácil ocultar as marcas de chupões ou mordidinhas, o que quer dizer que, tanto decoro escondia em si verdadeiros vulcões de desejo.
Porque boca não só beija como morde. Li não me lembro agora em que livro, que as dentadas de amor eram motivo de orgulho entre casais mais lá pra Idade Média. Uma marca de posse e paixão.Tomando como base que ter dentes na Idade Média era uma coisa muito rara, as tais dentadas também o eram. E associavam isso à luxuria e não ao canibalismo. E o beijo dado muitas vezes à noiva como preliminar era uma forma de ensinar o acto sexual à virgem, uma vez que o marido fazia com a língua na boca dela o movimento do coito.
Mas no velhinho, batido e conhecido Kama Sutra, vem um capítulo só dedicado aos beijos e mordidelas. As coisas para eles, levam seu tempo, passando por etapas entre os amantes. Porque tudo é uma troca. E o mais interessante é que dá a entender que a mulher é quem marca o compasso. O homem corresponde, porque segundo eles, o acto do amor não deve ser forçado e dada a natureza mais calma e terna da mulher, ela marca o tom da música.
E aí vem aquela lista enorme de beijos: nominal, palpitante, de leve, directo, inclinado, volvido, pressionado, envolvente, de combate, que distrai, transferido e o que revela intenção.
Nas mordidelas a lista continua : oculta, inchada, o ponto, a linha de pontos, o coral e a jóia, linha de jóias, a nuvem quebrada e a dentada de javali (muito romântica esta última não é?).
Beijar na boca pode ser até banal nos dias de hoje, uma coisa à que não é dada a devida importância, mas é o começo de coisas muito boas. Pode ser uma mensagem à alguém, pode ser o começo ou a despedida. Na nuca, muito íntimo...você não oferece a sua nuca à toda gente né? No canto dos lábios, o beijo sussurrado, atrás da orelha, um segredo...
Seja ele como for, usar a boca pra beijar ou morder, falar ou sorrir é mais importante do que se pensa. É toda uma linguagem de significados que queremos dar e receber. Quem já levou beijo murcho, daqueles que está cheio de obrigação, nota bem a diferença daquele que é intenso, daqueles que a gente se sente a levitar, não é? É um tipo de barómetro.
Mas os beijos chegam depois do olhar, e disso, vou falar outro dia ok?
Apareçam
Rakel.
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