" Amo-te, mas estou zangada contigo!!" Foi uma frase que escutei, não dirigida à mim, mas de uma mãe zangada para um filho. Parece que o quarto dele estava um zonão e ele não o arrumava. Coisa típica de mãe que quer a todo custo um quarto arrumadinho, digno de capa de revista e com direito a visita pública.
Eu já me contento com o quarto dos meus filhos de chão aspirado e sem lixo espalhado... já desisti da capa de revista faz tempo.
Mas é por aí que eu quero focar hoje a minha questão: falar do que se sente. Essa ambiguidade de poder dizer amo-te ao mesmo tempo que afirma a zanga e o motivo. E facto de dizer em si. Deixar sair cá pra fora as coisas que se pensam.
Se você quer deixar uma pessoa mesmo assustada, basta virar pra ela e dizer "gosto de ti" , só isso. Gera um turbilhão de pensamentos na cabeça de quem ouviu esse par de palavras que até é possível ouvir as engrenagens cerebrais rodando a toda velocidade. Porque dizer isso não é comum. Ouvi-las é raro...
É mais fácil ouvir-se outras coisas, muitas vezes nada agradáveis e aceitar ou pelo menos não se sentir tão assustado. Se te chamarem de cínico/a, seca/o, amargo/a, maluca/o, aceita-se melhor do que uma genuína e simples demonstração de afecto. E nem sempre ao dizer isso, está demonstrando tudo. Mas parece que fica mais fácil de aceitar um "gosto de estar contigo". Não tem grandes implicações. Ou tem?
Na verdade, faz algum tempo que ando a encher o saquinho da minha irmã para que ela me arranje o endereço de um senhor que agora deve rondar os seus 87 anos. De certa forma ele foi mais pai pra mim do que o meu biológico. E quero, antes que seja tarde demais, poder dizer à ele isso mesmo : "Foi bom tê-lo na minha vida, pena me dá a distancia, mas mesmo assim saiba que gosto muito de ti." Dr. José Breda, foi meu pediatra (até aos 16 anos) e um gajo pra lá de maluco. Mas adorava de cada vez que ele ia lá em casa, jogar xadrez com meu pai (isso significava discussão com a legítima) e um chá.
Obviamente, dizer ao Breda que gosto dele não significa que estou com outras intenções do que manifestar o meu carinho por uma pessoa que só tenho boas lembranças. Da mesma forma, quando escrevo para um punhado pequeno de pessoas, finalizo (porque é isso que eu sinto) um "amo-te" sem outra pretensão que seja dizer que essa pessoa vive no meu coração, que me é importante é que posso dizer isso sem que haja uma hecatombe de pensamentos judiciosos. Meus irmãos, uns muito poucos amigos e amigas.
E de cada vez que o tempo vem passando, mais vejo o medo, uma certa desconfiança, em que as pessoas olham para o facto de se verbalizar os bons sentimentos. Como se fosse uma prisão, uma trela, uma gaiola. Não poderia engaiolar os quase 2 metros do Breda...e ele apesar da idade continua um galinha nato, daqueles que há de o ser até ao fim. Abençoado!!
De cada vez que eu provoco a Stela e ela me chama de cabra, respondo sempre com um :... eu também gosto de ti..." Porque simplesmente é isso mesmo. A gente aceita os amigos, com as suas qualidades e defeitos, os seus dias bons ou maus, porque quando se gosta de algo, de alguém, a gente abarca tudo. Porque é disso que são feitas as pessoas. E eu hei de conseguir habituar que me escutem e leiam as minhas verbalizações afectivas sem que sintam que algo estranho se passe comigo. Estranho é elas se sentirem incomodadas por ouvirem um pequeno afago na alma. Saberem que são importantes para mim.
Espero bem, que o tempo me dê a chance de poder dizer o que ainda não disse à muita gente que gosto sinceramente. Que me marcaram, e que por ser moleca demais na altura, não sabia até que ponto era preciso dizer.
E se por um destes acasos da vida, o Breda for desta para melhor...que fique aqui publicamente dito:
"Breda...te gosto muito!!"
Apareçam
Rakel.
Simplesmente e sinceramente assim a vida devia ser ...
ResponderEliminar...simples e sincera...
ResponderEliminarBjo