Sapos e Verrugas


Se alguma vez nos pedem uma descrição do que é ser gente, ser humano, desfiamos aquelas coisas que aprendemos na escolas: somos bípedes, mamíferos, omnívoros e racionais. No racional, tem muito que se lhe diga, porque são mais as vezes que tomamos atitudes irreflectidas e irracionais que raspam bem de leve o lado mais primitivo, irracional e animal, do que aquela coisa de usar a cabeça com juízo.

Mas por mais racionalidades, ciências e avanços que fazemos, criamos uma data de alegorias, mitos e superstições que se nos colam e tentam dar uma explicação que se encaixe nas nossas necessidades. Muitas vezes, a realidade se misturou com a ficção, numa mistura de ignorância e superstição. E cá estamos nós, gente esclarecida, com dois dedos de testa, que sabe a diferença de 3G de um IPhone e toda essa cangalhada tecnológica, mas com um pé naquela época de bezendeiras, medo do fim do mundo com data marcada num ano que nunca chega.

Ok, tenho a minha pancada vampiresca que não nasceu do Twlight nem do True Blood, já vem dos meus verdes anos de adolescente que achava um espectáculo (e continuo a achar) o jogo de sedução do dentuço com a candidata à refeição. Porque é aí que a coisa com o tempo, ou falta dele, essa pressa toda, tem estragado, o investimento em conquistar algo ou alguém. Terapeutas, sociólogos, psicólogos tentam explicar porque, no mundo moderno, de tamanha rede de comunicação...o que mais se instala é a solidão. Escrevi há uns tempos sobre ideais... e ainda acho que tá valendo.

Semana passada numa conversa com a Ana, falamos sobre isso, sobre mulheres novas, giras, independentes, inteligentes, carinhosas e boa onda que estão sós. Discorremos sobre as várias vertentes sociais, económicas e comportamentais... e os resultados dessa conversa não são nada animadores. Aquilo que ficou bem claro, é que as coisas começam cedo, desde casa. É lá, com o comportamento da família, dos valores que se passam, que a pessoa pode ou não pegar modelos de vida.
Durante séculos o papel de dependência da mulher condicionou a ala masculina, que toma como que verdade adquirida, o papel de parte activa de um casal.

A gaita é que o papel das mulheres mudou depressa demais e de proporções maiores do que aquelas que os homens se deram conta. Houve uma vez que ouvi da boca de uma pessoa esclarecida, que o papel primordial do homem é proteger (ah tá), cuidar e prover as necessidades do seu núcleo familiar ou pessoal. Portanto, cá temos a explicação que o factor Y nasce com o chip de ser o Super-Homem, com um ego gigantesco e com o único papel activo em tudo.

Só que se começa uma relação, em que se começa logo a dizer: "Ok, estamos juntos, mas gosto de ter meu tempo, meu canto, de sair com as minhas amigas, jantar com os meus amigos..." a coisa não fica muito bem. Embora ainda hajam muitas que ficam olhando pro telelé com ansiedade, esperando uma chamada que nunca mais chega, ou uma mensagem, a grande maioria está se borrifando para o caso. Desfez-se uma longa linhagem de dependência  de aceitar qualquer um por ser melhor que nenhum. Aquela velha máxima de : beijar muitos sapos até encontrar um príncipe acabou. Já não se aceita qualquer coisa. Aceitam-se aqueles que são nossos pares, gente que não vêem na independência falta de afecto.


Agora o jogo é muito mais retorcido e complicado: há mulheres que descem patamares para não magoar egos (e como há egos enormes e inchados), e em vão esperam que eles subam com elas os patamares mais acima. Há quem teimosamente fica no seu patamar e tente, sem resultados,  puxa-los à força mais pra cima. Há quem se transforme no modelo desejado  pelo alvo e seja sempre infeliz por aquilo que teve que deixar de lado.
E no rol de quem não se contenta com qualquer coisa está esse número enorme de mulheres que tem imenso valor, bonitas e independentes. Que querem mais do que o olhar imediato num bar ou discoteca e o "vamos". E tudo por causa da pressa de ter logo o que quer, sem investir nem um bocadinho na sedução. Se a gente põe um bocado de travão e queremos mesmo conhecer melhor, a coisa corre mesmo mal. A verdade não encontra lugar nisso tudo, mais fácil se acredita numa mentira do que numa verdade escarrapachada na frente da focinheira. 

Mesmo esclarecidos, tecnologicamente avançados, há quem continue a ver a vida pelo lado do conto de fadas: a carochinha na janela anunciando que é bonitinha e quem quer casar com ela, o lobo na pele de cordeiro, a dona do sapatinho de cristal, quando na verdade... o mundo é feito de Shreks e Fionas...
...não há ideais, perfeição e temos que lidar com defeitos pelo meio...

Apareçam

Rakel.

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