Halloween...


Começando... há que explicar que esta festividade recém aparecida aqui em Portugal, na verdade perde-se no pó da história. E para entender um bocado as coisas vou ter que voltar lá bem atrás, no tempo que se andava com um porrete nas mãos, vivendo em cavernas e que todos os fenómenos naturais eram tidos e havidos como sortilégios. Imagine-se perante a certeza de que, as coisas mais constantes, eram a luta pela sobrevivência, do grupo ou tribo. Que de acordo com as estações haviam os territórios de caça, outros onde se colectavam frutos e moradias diferentes. Essa era a grande constante desses homens e mulheres: as estações a mudarem e com elas as outras mudanças: os nascimentos, crescimentos e mortes. Juntando à isso, o facto de que era preciso, em todas as espécies, de uma macho e uma fêmea para que a vida surgisse...que se acreditasse na dualidade para a formação de vida. 



Os dois astros também sempre constantes na vida destes povos, fossem para onde fosse eram dois: a Lua e o Sol. Assim, as dualidades masculina e feminina encontraram a sua representação visível para esses povos. Sendo que, as mulheres detinham o segredo da geração da vida, que as regras menstruais e os nascimentos se regiam pelos meses lunares, a mulher, o lado feminino, ganhou a Lua como sua representante. E estas sociedades primitivas foram baseadas no matriarcado, as sábias que conheciam as plantas que curavam, que regiam os primeiros cultos e as geradoras de vida. Aos homens calhou-lhes o Sol como símbolo, à eles cabia a tarefa de caçar e proteger a tribo, fortes, corajosos e muitas vezes impiedosos... vergavam apenas perante a sabedoria das anciãs.

O tempo foi passando e estes povos que começaram a se fixar em determinados pontos e foram evoluindo, formando pequenas aldeias, comunidades ou clãs, continuaram a reverenciar as forças da natureza, as energias vitais. Todos os povos do Norte da Europa criaram à sua maneira um panteão de deusas e deuses que explicavam todos os fenómenos da vida e morte. Na mesma época e bem distante dali, a Índia, Japão, China, África, Brasil e muitos outros detinham a mesma vertente de ligação divina e natural. Em todos esses povos há a deusa da água, o deus do sol, a mãe é sempre a Terra, a que dá e cria. Dos Andes aos Himalaias... por muito diferentes que fossem os povos e línguas, a constante é a mesma: a dualidade.

Ora, para os povos da actual Grã Bretanha, da Irlanda e Escandinávia, os deuses se transmutavam com as estações, nascimento e morte. Ora bem, depois desta enrolação minha, aqui vai a explicação do Halloween. Para os antigos povos Celtas o Verão acabava realmente no dia 31 de Outubro (não esqueçam que, a raiz cultural portuguesa é celtibérica) nesse dia era considerado a morte do lado masculino, pois o Sol vai diminuindo de intensidade e calor, a sua luz já desaparece cada vez mais cedo anunciando a sua morte. Nesse dia então, em que o protector desaparece, a ténue linha que separa o mundo dos vivos e dos mortos é nula. Assim os espíritos dos antepassados falecidos apareciam perante os seus descendentes, para serem relembrados, acarinhados ou com alguma mensagem pertinente. No México, a festividade do dia dos mortos é um verdadeiro Carnaval, porque a morte, mais não é que uma das partes da vida, da possibilidade de poder voltar outra vez. No Japão e na Índia (mais precisamente a festividade de Divali é apenas uma semana mais tarde), para todos estes povos antigos, a morte do deus significava o fim do ano.

Aí, quando tudo corria em harmonia, que tudo estava mesmo bem pra estes lados da Europa, chegam aos bocadinhos um povo baixinho, estranho, que começaram a dizer que tudo aquilo que estavam a fazer e a reverenciar não prestava... o que valeu umas cabeças arrancadas, uns estripamentos ou esquartejamentos. Eis que chegaram os cristãos. Depois de alguns dissabores (e há que convir que um hebreu que chega perto de um Vinking e diz : isso tá tudo errado e não presta... é burro e corajoso ao mesmo tempo). Segundo rezam as tradições, o apóstolo Tiago andou por estas bandas com alguns discípulos a espalhar a nova fé... sem muito êxito. Porque a Velha Tradição persistia, convivia lado a lado com a nova fé. Ora, se não podemos vence-los, juntamos-nos à eles. E assim o dia do renascimento do deus Sol que sempre foi na noite de 24 de Dezembro, coincidiu com o nascimento de Jesus. E porque? me pergunta você que me lê. Lá pelo ano de 835, o Papa Gregório III quis dar uma arrumada no assunto e juntou não só o nascimento de Jesus no dia do renascimento do deus Sol, como o dia cristão dos mortos e todos os santos que era em Maio passou para a noite de 31 de Outubro. Assim, pensou o Papa, querendo ou não, na marra, o povo teria que entrar na turminha da cristandade. Mas, a adaptação foi da parte dos cristãos ao calendário pagão. A Páscoa, festa móvel que fala da ressurreição de Jesus, coincide (Ohhh que espanto!!!) com a festividade de Ostara, a deusa que se transforma em coelha e que se torna fértil e reprodutiva. Daí, minha gente, o porquê dos ovos de Páscoa e o coelhinho... símbolos de renascimento e fertilidade. :)



Acho um piadão cada vez que ouço ou vejo que, a maior parte das festividades... são tradições tão antigas quanto o tempo... Ahhhh... já agora... as noivas de Maio e Junho...as festividades de Beltane, a mulher plena, cheia de sangue na guelra, danada pra brincadeira... a celebração das uniões. Giro né??

Se forem comemorar então o dia de Halloween, estão perpetuando uma tradição, que embora não pareça, faz parte da longa história da humanidade e deste cantinho beirando o mar...

Apareçam

Rakel

Comentários

  1. Oi amiga!
    Já tinha saudades das tuas explicações.
    Aprende-se sempre muito!!
    Jinho

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  2. ...nem ke seja a verem mais alguma coisa que o habitual... :)

    Bjo

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