Boquinhas Infantis

Lá vai o tempo, que dizer uma asneirita era sinónimo de uma valente chapada e a ameaça de chupar um bocado de sabão azul e branco pra lavar a língua. A gente aprendia desde cedo a cumprimentar os mais velhos com respeito, dizer "com licença", "faz favor" e "obrigada". Havia no meu tempo, um suporte audiovisual chamado CHINELO, que bastava vê-lo em riste na mão da minha querida mamã pra saber que estava a pisar o risco. Mas atenção, os chinelos da minha mãe não eram umas vagabundas havaianas compradas na feira. Não!!! Eram chinelos todos catitas, com sola de pele, saltinho e umas plumas todas frufrus...mas doía como tudo no back side na mesma.

Levei muitos NÃO pela frente, não por falta de recursos dos meus pais, mas sim numa vã tentativa deles em obrigarem-me estudar matemática e subir a nota. Escusado será dizer que levei mais não que sim, dado que sou uma verdadeira naba no assunto. Não compreendo certas abstracções, a matemática bate todos os pontos da abstracção absoluta. Daí que, quando comecei a dizer que se fosse ficar sem mesada eternamente ia me queixar às autoridades competentes, que eu e a matemática temos problemas inconciliáveis,  incompatibilidades que não tem solução, resolveram me dar a mesada mas... mais nada. O resto tinha que ganhar na raça, estudando.

...ah tá, benditas cábulas e a gripe do prof. João que sempre ficava com conjuntivite. Foi um bimestre inesquecível.

O facto de ter levado aquela data de negativas na vida não me tornou traumatizada, nem excluída ou menosprezada. Serviu pra fortalecer o meu temperamento, a minha força interior, saber viver sem lamentar o facto de que não tenho algo. Nestes momentos de crise, de já nem ter espaço pra fazer mais furo no cinto, não me sinto despreparada pra nada.

Há uns dias, um conceituado psicólogo, dizia na T.V que as crianças precisam e gostam de LIMITES, que se educa a dizer que para ganhar, tem que merecer. Colocar limites não é fazer da criancinha um ser empobrecido, nem mal amado. Porque a consciência de muitos pais que não tem tempo para educar os filhos se sente apaziguada quando dão coisas, quando dizem que sim à tudo.

Vai daí que ainda há aquele conceito parvo e cretino de confundir personalidade forte com má educação. Saem alarvices das bocas das criancinhas... que se fosse nos bons tempos da minha mamã...valiam uma valentes chineladas e muitas peninhas voando pelo ar...

O pior... acham gracinha e acham prodigioso quando uma criancinha é mal educada, embirrante (nervosa dizem alguns) e inconveniente. Sou a favor da liberdade de expressão, mas já dizia a minha avó...

"De boca fechada, não entra mosca nem sai besteira"

E esta menina, tadinha, que muitos acham engraçada, mais não é do que uma repetição do que a mamã dela diz. Mais valia a mamã dela rever as escolhas que faz...e saber educar a filha...

Aquela miúda deve ter uma vasta experiência com rapazes pra tamanha certeza...e aplaudem!!!

Apareçam

Rakel