Entre a Luz e a Escuridão



...na minha janela da alma...

Há dias em que prefiro as portadas fechadas...preciso da escuridão, da ausência de sons e da dança da luz que viaja com as horas pelas minhas paredes.
Fecho os olhos e deixo-me levar pelas desordenadas maneiras como levo a vida, das escolhas que faço ou que fiz. Debruço-me em cada momento, me perguntando até que ponto nada mais pude fazer, nada mais houve que ver.

Acho que vejo a mesma coisa por diversos ângulos, e mesmo assim, me pergunto...aonde poderia ter melhorado? Como poderia ter feito melhor? Na maior parte das vezes, o que me responde cá dentro é que foi exactamente aquilo que eu não fiz.

Outras vezes, dentro das minhas portadas fechadas, deixo-me levar pelas lembranças...as doces e infantis, as de sabor de fruta e cheiro do mar. De andar descalça nos dias quentes, do riso fácil de quem nada tem do que se preocupar...do abraço amigo, da palavra certa...os banhos de chuva de Verão...e sorrio.

Rostos e vozes, risos e olhares, todos desfilando na sua vez, na sua ordem prioritária, na lembrança mais marcada, na força da sua atitude...ou pela falta dela. Há que ser justa, nem tudo é bom, nem todas as lembranças da penumbra são boas. As imposições, os castigos, as ameaças veladas, as revoltas que delas surgem, o vazio de que algo se quebrou...

Abro os olhos, e mesmo na escuridão me dou conta que vejo bem, até acho que vejo melhor sem a incandescência da luz...ela por vezes me cega, não me deixar enxergar os contornos totais do que me rodeia.

...mas é na luz que as coisas nascem, se movimentam. É nesse bulício de cores e sons que a vida se perpetua....e que vejo a distancia do que me separa daquilo que procuro.

Abro aos poucos uma fresta das portadas...e vejo entrar uma nesga de luz, e dela nascem as sombras, os obstáculos que a impedem de continuar se transformam em sombras.
A luz contorna de forma graciosa aquilo que a impede de continuar e mostra com pouca exactidão a sua forma.

Depois de um tempo na escuridão e no silencio, em que tudo foi visto e colocado no lugar, respiro fundo, e abro de rompante as duas portadas... e deixo a luz invadir o meu espaço. Sei agora que para lá desta janela, muitas coisas me esperam, novas caras, novas vozes, mais desafios e lutas. Mas isso é assim mesmo.

Meus dias de luz... que precisam do repouso na escuridão...

...a minha escuridão que precisa ir beber da luz para seguir em frente...


Apareçam

Rakel.

Comentários

  1. Entre a luz e a escuridão há um espaço infinito
    onde cabem fantasmas, projecções e muitos tons de cinzento, é certo.

    Mas...algures, entre a luz e a escuridão há também o prisma das cores que reflecte o tom conforme o raio e a densidade da energia que o faz descarregar.

    Ou....pura e simplesmente a incapacidade de absorver a cor não seja mais do que 1 escudo, tal como manda a natureza.

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