Banquete Estoico



Outro dia, um amigo de longa data e eu falávamos sobre os resultados práticos da pandemia e de como afectaram negativamente a vida das pessoas.
Do meu ponto de vista, não houve só aspectos negativos na lista; felizmente e graças ao confinamento, ficou de fora a sistemática projecção e total foco na menina porta-bandeira da ecologia que grita, acusa e não apresenta soluções e que, não se esqueçam, é uma marca registada. Também ficou sem holofotes a deputada sem partido e senso de realidade e que finge uma fragilidade que desaparece quando fica nervosa. Justamente o contrário do que realmente acontece à quem sofre de disfemia. Foi um descanso. Isso e o futebol ter ficado sem o relevo que sistematicamente ganhou na boca de abertura de qualquer telejornal ou notícia de última hora. Uma transferência ter a validade de uma urgência informativa é no mínimo triste. Mas enfim...

O mais interessante mesmo é perceber como as pessoas funcionam numa situação em que há-que ponderar as prioridades num momento em que mais vale adiar por um tempo do que para sempre. E quando ia espreitar, uma vez por semana (não há paciência para ver um replay diário de queixas e azedumes), as redes sociais para fazer o diagnóstico das gentes, sejam daqui ou de qualquer outro lado do mundo, ena pah... parece mais uma sala de infantário que ficou de castigo. E que não percebem a razão por que não podem brincar lá fora. A comparação até pode ser forçada, mas nunca vi tanta birra, desespero, beiçola caída, bater de pé e aquele perder a respiração no choro convulsivo de quem tem 3 anos, foi habituado a poder fazer tudo e que não sabe encaixar um "não".

E o mais engraçado é que, nesta situação colectiva e que era pedido a sua participação cívica, muita, mas muita gente esqueceu as grandes frases que fazem suporte daquilo que consideram como lema ou modo de vida. Onde fica o "Se a vida te dá limões...e tal?" Ou o velhinho Carpen Diem?
Birra por cancelamento de concertos, jogos de futebol, o mundo se acabou e tudo é uma merda por que um festival foi adiado... e tristemente agora pensam que o pior já passou. Nop, de jeito nenhum. Este tempo precário de "liberdade condicionada" durante o Verão é apenas um subir à tona para respirar, amealhar uns trocos e preparar-se para nova fase de confinamento.

E enquanto o povo se chateia por que este ou aquele espectáculo foi cancelado, mas o do partido do povo e para o povo tem aprovação para fazer o seu piquinicão, eu vou lendo, fazendo outra sorte de coisas que ocupem de forma mais positiva o meu tempo e cérebro.
E numa outra conversa, há coisa de par de dias, falamos sobre o estoicismo. Para muita gente, estoicismo é sinónimo de levar com o pior da vida e aguentar sem reclamar. Ou de viver com o menos possível e mesmo assim, tomar como bom e certo.

Estoico não é aguentar o pior. Nop! Uma das coisas mais atraentes no estoicismo é que, todos os sentimentos negativos e desconstructivos devem ser banidos da vida de cada um. De que mais do que falar e escrever sobre o modo de vida honesto e ético... é vive-lo.

Estive a ler algumas coisas que o Tio Epípeto, um filósofo que via o estoicismo como um modo de vida para além de um exercício da razão, e vou pegar num trecho do que ele disse e vou só fazer algumas adendas para melhorar e fazer-se perceber melhor.

" Lembre-se que deve comportar-se (na vida) como se estivesse num banquete. Se algum prato foi-te oferecido, tira a tua parte com moderação (não sejas um lambão e te empanturres logo de caras, pois há tantas coisas ainda para provar). Passa uma bandeja por ti e não te foi oferecido? Não chames de volta nem o pares ( aprende com os "não" da vida) . Ainda não apareceu o prato que tanto gosta? Não anseies por ele, espera até que chegue à ti. (não te ponhas a bater o pé, fazer birra e dizer que o banquete não presta). Porque com este comportamento estóico, um dia vais jantar com os deuses..."

Em resumo, se uma pessoa vive como se estivesse num banquete e for pegando pequenas porções de cada coisa, vai experimentar um bocadinho de cada coisa que a vida tem para oferecer. Até pode ser que um dos pratos passe por si já vazio, por que se calhar, um lambão qualquer se abarrotou com tudo; mas isso não significa que o banquete é pior por isso. Num banquete tão repleto e cheio de diferenças, ter o privilégio de poder viver e experimentar esse banquete é superior do que a ausência de um determinado prato, que geralmente mais parece do que é. Pode ser que nem faça parte da ementa.

O banquete neste momento apenas tirou de parte as sobremesas; os pratos principais estão a ser feitos por ordem das prioridades das nossas necessidades. E embora a descabeçada da Marie Antonieta dissesse que, "se não tem pão comam bolos", ninguém vive de bolo de chocolate e baba de camelo.
A vida é simples... e um prato que ainda não provou é apenas um ainda. E se nunca chegar...há tantos outros para provar!
Saiba esperar, por que o banquete não acabou.

Rakel.




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